Lista das possíveis dúvidas e contradições do Livro de Números parte 2

terça-feira, 29 de abril de 2008

Números 24:7 – Como este oráculo pôde referir-se a Agague, se ele viveu muito mais tarde, na época de Saul?
Primeiro, o nome Agague foi provavelmente um título real que os reis amalequitas tomaram para si – comparável ao título de Faraó. O rei amalequita que foi posteriormente vencido por Saul também tomou este título.
Segundo, mesmo que Agague tenha sido um nome próprio, não é necessário concluir que a referência feita em Números seja anacrônica. Não era algo incomum os reis terem os mesmos nomes de reis anteriores. Até mesmo na história de Israel houve dois reis com o nome de Jeroboão. Esta prática era comum na Fenícia, na Síria e no Egito. Houve quatro faraós com o nome Amenemhet, apenas na décima-segunda dinastia, no Egito.
Terceiro, desde que o oráculo de Balaão lhe foi dado pelo Espírito de Deus, é possível que tenha sido uma palavra profética quanto ao domínio que Israel teria sobre os primeiros povos que o atacaram após a saída do Egito (Êx 17:18ss). De qualquer forma, esta referência não é anacrônica.
Outros exemplos de assim chamadas “menções prematuras” podem ser explicadas de maneira semelhante. Por exemplo, os amalequitas podem ter sido mencionados por uma antecipação histórica (em Gênesis 14:7), embora eles tenham florescido muito depois (cf. Nm 13:29; 14:25; Jz 6:3).
De igual modo, “a terra dos hebreus” (Gn 40:15) pode ter sido assim referida em antecipação ao posterior cumprimento da promessa de Deus (em Gênesis 12:1-3; 15:4-7) ou pelo fato de Abraão e seus descendentes já terem morado lá por séculos. Hebrom (Gn 13:18) pode ter sido seu nome original, sendo posteriormente designada por Quiriate-Arba, e então novamente chamada de Hebrom (Js 14:15). Ou um editor do manuscrito do AT pode simplesmente ter atualizado o nome, para que as pessoas de seu tempo pudessem entender qual o local a que se referia.
Ainda, a terra dos levitas (Lv 25:32-34; Nm 34:2-8) foi mencionada provavelmente como antecipação. E o “monte” onde o “santuário” do Senhor estava (Êx 15:13-17) simplesmente falava sobre o modo como seria quando eles chegassem à Terra Prometida.

Números 25:9 – Por que este versículo diz que 24.000 morreram, sendo que 1 Coríntios 10:8 cita um número diferente?
Há duas possíveis explicações. Primeiro, alguns têm sugerido que a diferença deve-se ao fato de que 1 Coríntios 10:8 está se referindo apenas aos que morreram “num só dia” (23.000), ao passo que Números 25:9 está mencionando o número completo de pessoas (24.000) que morreram daquela praga.
Outros acreditam que dois diferentes eventos estejam sendo considerados. Estes observam que 1 Coríntios 10:7 é uma citação de Êxodo 32:6 e que, por tanto, essa passagem na verdade está se referindo ao juízo de Deus depois da idolatria envolvendo o bezerro de ouro (Êx 32). A passagem de Êxodo não estabelece qual foi o número de mortos em decorrência do juízo de Deus, o que somente é revelado em 1 Coríntios 10:8. De acordo com este versículo, 23.000 pessoas morreram por causa do juízo de Deus devido à adoração ao bezerro de ouro. Já em Números 25:9, foram 24.000 os que morreram por causa do juízo de Deus por Israel ter adorado a Baal, em Baal-Peor.

Números 33:44-49 – Por que nesta passagem a relação dos lugares em que Israel parou é diferente daquela anteriormente estabelecida em Números 21?
A compreensão de vários fatores nos ajuda a conciliar a aparente divergência. Primeiro, as duas listas começam com exatamente os mesmos nomes e terminam exatamente com o mesmo lugar (a leste do Jordão, perto de Jericó). Segundo, já que as duas listas de nomes estão no mesmo livro, o autor não viu nenhuma contradição entre elas. Terceiro, alguns lugares podem ter tido mais de um nome. Ijé-Abarim, por exemplo, também é chamado de Ijim (Nm 33:44-45).
Quarto, nenhuma das duas listas pode estar completa, já que mencionam apenas os nomes que o autor queria destacar a cada vez. Números 21 relaciona seis lugares de Ijé-Abarim a Moabe, ao passo que Números 33 relaciona apenas três. As duas listas podem ter sido feitas com diferentes perspectivas ou propósitos. Quinto, a lista em Números 33 pode referir-se aos centros de operações de Moisés e do tabernáculo.
Sexto, como havia milhões de pessoas que cobriam uma larga extensão de terra, mais de uma cidade pode ter sido ocupada ao mesmo tempo. Sétimo, em sua peregrinação Israel pode ter passado pelo mesmo lugar duas vezes, primeiro numa rota cheia de desvios e depois numa rota mais direta (cf. Nm 33:30-33).

Números 35:19 – Por que Deus permitiu o vingador do sangue, porém proibiu o assassinato?
Em primeiro lugar, não se tratava de um ato de homicídio, mas de um ato de pena de morte que Deus tinha ordenado antes da lei (Gn 9:6), e que Moisés reafirmou com a Lei (Êx 21:12). Além disso, observa-se que era para ser executado em um “homicida”, e não simplesmente em qualquer pessoa. Também, o vingador tinha de ser o parente homem mais próximo de quem fora morto, não qualquer um que quisesse fazer justiça com as próprias mãos.
Para resumir, o que é proibido em Êxodo 20 é o reconhecido crime de homicídio, e que é permitido em Números 35 é a reconhecida responsabilidade de ser aplicada a pena capital. Estas duas coisas não estão em conflito.

Números 35:30 – A Necessidade de se ter, no mínimo, duas testemunhas significa que é errado condenar alguém com base em outras provas?
Seria um erro presumir que a palavra hebraica correspondente a “testemunha” (ed) tivesse exatamente o mesmo significado que hoje a ela atribuímos. Levítico 5:1 nos dá um bom exemplo da abrangência do uso dessa palavra hebraica: “Quando alguém pecar nisto: porque tendo ouvido a voz da imprecação, sendo a testemunha de um fato, por ter visto, ou sabido, e, contudo, não o revelar, levará a sua iniqüidade”. Neste versículo a mesma palavra que é traduzida como “testemunha” refere-se a alguém que viu ou sabe de um fato.
De acordo com a lei mosaica, então, havia dois tipos de testemunhas que poderiam testemunhar em favor da acusação de uma pessoa. Uma seria testemunha ocular, outra era a pessoa que, embora não tivesse presenciado o fato, poderia dar testemunho quanto à identificação do transgressor.Este versículo não torna errado sentenciar alguém com base em provas, que não o testemunho ocular. Além disso, o escritor do AT não conhecia, nem pretendia excluir, provas modernas tais como impressões digitais e gravações de áudio e vídeo.

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