Lista das possíveis dúvidas e contradições do Livro de Deuteronômio parte 1

terça-feira, 29 de abril de 2008

Duvidas e “contradições” de Deuteronômio.
Segue-se abaixo uma lista das possíveis duvidas e supostas contradições ocorrentes no livro de Deuteronômio. A lista esta organizada em ordem de versículos.

Deuteronômio 2:10-12 – Como isto pode ter sido escrito por Moisés, se há referência à terra da promessa, na qual ele entrou?
Alguns eruditos declaram que estes versículos são parentéticos e que podem ter sido acrescentados posteriormente por um editor. Esta posição é plausível diante da brevidade dos versículos, do fato de estarem entre parênteses e da condição de Moisés ter sido enterrado antes dos filhos de Israel entrarem na Terra Prometida (Dt 34:4-6). Esse fato era óbvio para todos os leitores. Entretanto, não há necessidade de se concluir que Moisés não escreveu estas seções, já que “a terra da sua possessão” pode simplesmente referir-se às dez tribos que já tinham recebido a sua possessão ao leste do rio Jordão, antes de Moisés morrer (Dt 3:12-17).
Conquanto os eruditos evangélicos em sua maioria reconheçam que pode haver pequenas e explanatórias alterações editoriais no texto, tais como atualizações de nomes, eles se opõem ao que os críticos afirmam com relação a Moisés não ter escrito os cinco primeiros livros do AT (com exceção de Deuteronômio 34). Estes versículos parecem ser não mais do que uma inserção explanatória, com vistas a leitores posteriores.
Os eruditos evangélicos destacam a diferença que há entre pequenas revisões editoriais, feitas em plena sintonia com o sentido originalmente dado pelo autor, e o que poderiam ser posteriores alterações na redação, contrárias ao sentido original do texto. O seguinte quadro ilustra as diferenças entre essas duas possibilidades:
Posição Evangélica - Posição dos Críticos
Revisões editoriais - Nova redação
Mudanças gramaticais - Mudanças Teológicas
Mudanças na forma - Mudanças em fatos
Transmissão da verdade - Distorção da verdade
Alteração no meio utilizado - Alteração na mensagem
Atualização de nomes - Revisão dos acontecimentos
Há sérios problemas com as reivindicações dos críticos segundo as quais os redatores posteriores alteraram o conteúdo do que tinha sido previamente redigido:
1. Isso é contrario à repetida advertência de Deus: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela” (Dt 4:2; cf. Pv 30:6; Ap 22:18-19).
2. A teoria de novas redações confunde a canonicidade com pequenas críticas textuais. A questão das alterações introduzidas pelos escribas de um para outro manuscrito de um livro inspirado é uma questão de crítica textual, e não de canonicidade.
3. A teoria de “redatores inspirados” é contrária ao sentido da palavra dado pela Bíblia a palavra “inspirado” (2 Tm 3:16). A Bíblia não fala de escritores inspirados, mas apenas de escrituras inspiradas (o que foi escrito). Ainda, “inspirado” (theopneustos) não significa que algo foi “aspirado” pelos que escreveram, mas que lhes foi “soprado” diretamente o que escrever.
4. A teoria de novas redações contraria a posição evangélica de que apenas os textos originais são inspirados. Se apenas a versão final redigida é que foi inspirada, então a redação original não teria sido aquela “soprada” por Deus.
5. Uma nova redação inspirada eliminaria também o meio pelo qual toda palavra profética poderia ser testada por aqueles para quem ela foi dada.
6. A teoria de novas redações altera a posição da autoridade divina que, estando na mensagem profética original (dada por Deus através do profeta), passa para a comunidade dos crentes em gerações posteriores. Isso é contrário ao verdadeiro princípio da canonicidade, segundo o qual Deus determina a canonicidade e o povo de Deus simplesmente descobre o que Ele determinou e inspirou.
7. Essa postura de aceitar a canonicidade de textos que teriam sido reescritos ocasiona a aceitação do engano como sendo um meio para a comunicação divina. Essa teoria afirma que a mensagem ou livro, que reivindica ter provindo de um profeta (tal como Isaías ou Daniel), na verdade não proveio de dele em sua totalidade, mas sim de redatores posteriores.
8. Tal postura confunde ainda a legítima atividade dos escribas – que envolvia o zelo pelas formas gramaticais, a atualização de nomes e a fidelidade do conteúdo profético – com alterações ilegítimas de conteúdo, feitas sobre os escritos da mensagem de um profeta.
9. A teoria de novas redações considera que houve textos do AT reescritos e inspirados em épocas posteriores, quando não havia mais profetas (ou seja, no quarto século a.C.). Não pode haver textos inspirados, a menos que haja profetas. (Veja Geisler e Nix, A General Introduction to the Bible [Uma Introdução Geral à Bíblia], Moody Press, 1986, pp. 250-55.)

Deuteronômio 5:6-21 – Como poderia Moisés alterar as exatas palavras dos Dez Mandamentos, que lhe tinham sido dadas por Deus?
Primeiro, convém lembrar que o propósito de Moisés na revisão da Lei não foi fornecer uma recitação exata, de palavra por palavra, de cada pronunciamento do livro de Êxodo. Moisés não estava tão somente fazendo tão somente uma revisão da Lei, bem como suas implicações e aplicações, para que fosse aplicada pelo povo na entrada da Terra Prometida e na vida que lá passariam a ter.
Segundo, Moisés estava também sob a inspiração do Espírito Santo ao falar e escrever as palavras dessas passagens de Deuteronômio. Conseqüentemente, foi sob a inspiração do Espírito Santo que ele alterou, omitiu ou acrescentou alguma palavra ou frase nesta apresentação do Decálogo.

Deuteronômio 5:15 – O sábado foi instituído por causa do descanso de Deus em relação à criação, ou por causa da libertação do Egito que Ele deu a Israel?
Estas são simplesmente duas razões para a mesma observância. A primeira razão foi estabelecida conforme o descanso de Deus após a criação, e a segunda, conforme o seu ato de redenção. Ambas são razões verdadeiras e legítimas. A primeira razão inicial, e a segunda foi a razão subseqüente. Como foi Deus quem realizou esses dois atos, Ele tinha todo o direito de estabelecer ambos como razões para a observância do seu mandamento. Ambas as razões apontam para Cristo.

Deuteronômio 14:26 – Como é que esta passagem permite o uso de bebida forte, quando outras passagens condenam o seu consumo?
É claro que as Escrituras condenam o uso de bebida forte. Levítico 10:8-9, por exemplo, proíbe o sacerdote de beber vinho ou bebida forte quando ele está prestes a ministrar na tenda da congregação. Provérbio também proíbe o uso de vinho ou de bebida forte por reis ou governantes, para que não pervertam a justiça. Além disso, muitas passagens alertam quanto ao efeito desencaminhador da bebida forte (Pv 20:1) e condenam o seu uso de maneira geral.
A palavra traduzida por “come-o” em Deuteronômio 14:26 tem o sentido de consumo geral, e pode incluir tanto a idéia de beber como a de comer alimento sólido. Entretanto, a passagem não nos dá permissão para beber bebida forte ou toma-la em excesso. Isso é especificamente condenado no NT e também no AT. Era uma prática comum diluir a bebida forte (i.e., normalmente o suco da uva fermentado) na proporção de três partes de água para uma parte de vinho. Nessa forma mais fraca, e ingerida durante as refeições de forma moderada, não haveria perigo de excesso. Apenas assim o “vinho” foi permitido nas Escrituras, e ainda apenas numa cultura não alcoólica.
Ainda que o consumo moderado de vinho diluído possa ser permissível, numa cultura totalmente atingida pelo alcoolismo (como a nossa) não vale a pena. Paulo adverte em 1 Coríntios 6:12 que “todas as cousas me são lícitas, mas nem todas convêm”. Ele declara, ainda, que “é bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra cousa com que teu irmão venha a tropeçar” (Rm 14:21). Deus quer que nossa vida seja influenciada pelo Espírito Santo, não pelos espíritos.
A Bíblia opõe-se tanto à bebida forte como à embriaguez (1 Co 6:9-10; Ef 5:18). Ela lamenta a situação daqueles que bebem tanto bebida forte como a daqueles que bebem em excesso (Is 5:11; Am 6:1, 6; Mq 2:11). Os líderes cristãos são incitados a ser temperantes (1 Tm 3:3,8). Todos são advertidos que muito álcool é algo que Deus abomina (Am 6:1-8). Embora pequenas doses eram recomendadas por razões medicinais (1 Tm 5:23), em parte alguma a Bíblia recomenda que a bebida forte seja tomada. A única referência a tomar “bebida forte” é como um meio de suavizar a dor, em circunstâncias extremas: “Daí bebida forte aos que perecem” (Pv 31:6).
Deuteronômio 14:26 não deve ser usado como desculpa para tomar bebida forte por diversas razões. Primeiro, a ordem dada não foi para toma-la, mas simplesmente compra-la. Havia outros usos legítimos para o álcool, ou seja, cozinhar, para curar (cf, Lc 10:34) e para aliviar a dor. Segundo, a frase seguinte fala com clareza apenas de “comer”, e não de beber bebida forte. Terceiro, mesmo que beber estivesse implícito no termo “come-o” (v. 26), os judeus sempre diluíam a bebida na proporção de três partes de água para uma de vinho, com moderação em suas refeições. Isso feito assim tomando-o de forma branda e sem excessos, junto com o alimento, os preservaria dos excessos que ocorrem hoje nas culturas dadas ao álcool. Quarto, sempre é errado fazer uso de uma passagem não muito clara (como Deuteronômio 14:26) para contradizer todas as outras que são bastante claras (citadas acima) contra a bebida forte.
À vista de todos esses fatores, o melhor á concluirmos com o apóstolo Paulo: “É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra cousa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]” (Rm 14:21)

Deuteronômio 15:4 – Como pode esta passagem declarar que não haveria pobre entre eles, se o versículo 11 diz que sempre haveria pobres na terra?
Para ver que não há contradição alguma, basta considerar o contexto cuidadosamente. A promessa do versículo 4 esta condicionada ao fato de o povo ouvir “atentamente a voz do Senhor,” seu Deus, e cuidar “em cumprir todos estes mandamentos” que lhes era ordenado por Deus naquele dia (cf. Dt 15:15).
Um dos mandamentos era que, se houvesse um pobre em Israel, as pessoas não deveriam endurecer o coração, mas sim abrir as mãos e emprestar-lhe dinheiro e bens suficientes para as suas necessidades (“o que lhe falta” cf. Dt 15:8). Obviamente, se este mandamento se este mandamento deveria ser cumprido pelo povo, então para cada pobre haveria uma pessoa não pobre. De modo inverso, se não obedecessem ao mandamento de Deus quanto a suprir as necessidades de cada pessoa pobre na terra, então os pobres nunca deixariam de existir. Não há contradição.
Deus prometeu que, se as pessoas obedecerem a seu mandamento de suprir as necessidades do pobre, não haveria pobres no meio delas. A cada vez que circunstâncias adversas viessem sobre alguém, fazendo-o perder tudo e ficar na completa miséria, as pessoas da terra teriam de ir em sua ajuda e suprir as suas necessidades.O versículo 11 pode ser entendido como uma afirmação de que sempre haveria pessoas em dificuldades, precisando de assistência, e que outras pessoas seriam requeridas para suprir as necessidades daquelas. Se o povo obedecesse a Deus nesta questão, o Senhor faria a terra prosperar de tal forma que sempre haveria suprimentos em abundância para que uns atendessem às necessidades de outros. Este versículo pode ser visto ainda como um pronunciamento profético da desobediência de Israel a Deus, e da conseqüente presença contínua de pobres na terra. De qualquer modo, não há contradição alguma.

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