Lista das possíveis dúvidas e contradições nos livros de Esdras e Neemias.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Dúvidas e “contradições” dos livros de Esdras e Neemias.

Segue-se abaixo uma lista das possíveis dúvidas e supostas contradições ocorrentes nos livros de Esdras e Neemias. A lista está organizada em ordem de versículos

Esdras 1:8 – Quem foi Sesbazar?

Duas são as proposições feitas quanto à identidade de Sesbazar. A primeira parte de alguns comentaristas, que dizem que Sesbazar era o nome de Zorobabel na corte. Era costume na Babilônia, durante o cativeiro de Israel, dar outro nome a certas pessoas na corte. Daniel, por exemplo, recebeu o nome de Beltessazar (cf. Dn 1:7).

Um ponto fraco desta proposição é que não está claro se Sesbazar é ou não um nome babilônico. Além disso, geralmente um israelita que recebesse um novo nome na corte tinha também um nome hebraico que lhe havia sido dado por seus pais. Nem Sesbazar, nem Zorobabel são nomes hebraicos, e também não podem ser identificados como nomes babilônicos.

A segunda proposição é feita por comentaristas que afirmam que Sesbazar é o nome de Sealtiel, pai adotivo de Zorobabel. Esta alternativa leva à seguinte pergunta: por que Sesbazar é identificado como “príncipe de Judá” em Esdras 1:8? O que se propôs é que Sealtiel/Sesbazar fora levado a essa posição pelo governador da Babilônia, e que esse titulo passou a Zorobabel, depois da morte de Sealtiel/Sesbazar. Esdras 5:16 afirma que foi Sesbazar que “lançou os fundamentos da Casa de Deus”. Como Esdras 3 não cita especificamente o nome Sesbazar como participante nesse evento, pode-se presumir que Sealtiel/Sesbazar e Zorobabel tenham participado juntos no projeto, como pai e filho, e que o nome de Sesbazar simplesmente não foi mencionado.

Um ponto fraco desta posição é que não há indicação quanto a ter havido duas pessoas atuando como uma junta no governo de Jerusalém. Ainda. Há o fato de que o nome de Sesbazar não é mencionado em Esdras 2, na longa lista daqueles que voltaram com Zorobabel.

O fato de o nome de Sesbazar não ser mencionado também depois de Esdras 5:16 pode ser explicado a partir de qualquer uma das duas proposições. Se Sesbazar e Sealtiel eram a mesma pessoa, então pode ser que ele tenha morrido logo depois do lançamento dos alicerces do templo. Se Sesbazar era Zorobabel, então o nome da corte simplesmente foi deixado de lado, permanecendo o nome Zorobabel. Qualquer uma dessas duas explicações nos dá uma solução aceitável, e não há por que pensar que haja um erro ou alguma contradição nesse caso.

Esdras 2:1ss – Por que muitos dos números citados na lista de Esdras, dos que voltaram a Jerusalém, diferem dos que são mencionados em Neemias 7?

Primeiro, é possível que cada um desses casos seja um erro de copista. Uma das áreas mais problemáticas na transcrição feita por um escriba judaico era a cópia de números. Certamente é concebível que numa lista assim relativamente grande de nomes e números possa ter ocorrido erros feitos pelos copistas.

Segundo, é também possível que Esdras e Neemias tenham compilado suas listas em épocas diferentes. Esdras pode ter relacionado aqueles que deixaram a babilônia com Zorobabel, ao passo que Neemias, todos aqueles que de fato foram a Jerusalém. Em alguns casos, os que deixaram a Babilônia com a intenção de reconstruir Jerusalém podem ter desistido e voltado à Babilônia, e ainda alguns podem ter morrido na viagem. Em outros casos pode ser que uma família tenha absorvido outras pessoas, aumentando assim o seu o número. Talvez membros de uma família em outras terras tenham obtido autorização para a migração, vindo a juntar-se com seus parentes no caminho da Babilônia até Jerusalém.

Esdras 10:10-44 – Por que Deus ordenou que os israelitas despedissem suas esposas não-crentes, se Paulo nos diz para não fazer isso?

Essas duas colocações são feitas em tempos diferentes, para pessoas diferentes e por razões diferentes. A ordem dada por Esdras aconteceu no tempo do AT, e foi dada a judeus, e a palavra de Paulo foi dada a cristãos, no tempo do NT. Os crentes do NT não mais estão debaixo das leis dadas a Israel (Mt 5:17-18).

Além disso, mesmo considerando que o princípio moral contido nesse mandamento do AT ainda esteja em vigor hoje, as situações são diferentes, por três razões. Primeiro, as esposas do AT não eram apenas “incrédulas” que “consentiam” em morar com o marido, sendo “santificadas” por ele (1 Co 7:12, 14). Elas eram mulheres “estrangeiras”, ou seja, provavelmente adoradoras de ídolos (cf. Ne 13:25-26), que estavam trazendo uma influência pagã sobre seus maridos. Deus disse a Salomão que suas mulheres pagãs lhe “perverteriam o coração”, para seguir “os seus deuses” (1 Rs 11:2).

Segundo, aquelas mulheres não eram tão-somente pagãs, mas também descendentes de Moabe e Amom (Ed 10:30; cf. Ne 13:23) e de outras nações circunvizinhas, a respeito das quais o senhor dissera explicitamente a Israel que não as tomassem como mulher (cf. Êx 34:16; Dt 7:13).

Terceiro, é possível que elas tenham sido tomadas como segunda ou terceira mulher (cf. Ed 10:44), e Deus proibia a poligamia (1 Rs 11:1). Sendo assim, eles violaram as leis contra a poligamia (Dt 17:17) e a idolatria (Êx 20:4-5).

Essa é uma situação bem diferente da que havia quando Paulo deu a instrução para um marido crente manter uma só esposa incrédula não idólatra (cf. 1 Co 7:2), se ela se dispusesse a permanecer sob a influência santificadora do marido crente.

Neemias 7:32 – Se Ai tinha sido anteriormente destruída, como é que ela ainda poderia ter habitantes, segundo este versículo?

O fato de a cidade ter muitos habitantes data de um tempo bem depois da destruição, e ela foi reconstruída por sobreviventes ou por outros. Frases como “até haver destruído totalmente” (Js 8:26) referem-se a todos os que foram pegos. Não é dito que ninguém escapou. Nem ainda é eliminada a possibilidade de que outros tenham se mudado para o local, ocupando-o.

Esta mesma explicação aplica-se ao caso dos amalequitas, que foram completamente destruídos (1 Sm 15:7-8), contudo sobreviveram, de forma a serem derrotados numa época posterior (1 Sm 30:1, 17). De igual modo, Betel e Gezer foram conquistadas por Josué (Js 12:12, 16) e mais tarde também por juízes (Jz 1:22-29).

Neemias 8:17 – Esta festa não vinha sendo celebrada desde o tempo de Josué, ou foi celebrada mais tarde por Zorobabel?

A passagem de Neemias quer dizer que não tinha havido nada comparável à celebração daquele dia, desde os dias de Josué. Não significa que a festa não tenha sido celebrada por ninguém, desde os dias de Josué. A celebração descrita em Neemias foi excepcional sob muitos aspectos. Primeiro, foi comemorada por “toda a congregação” (Ne 8:17). Segundo, foi celebrada com “mui grande alegria” (v. 17). Terceiro, foi celebrada com uma leitura ininterrupta das Escrituras durante uma semana (v. 18). Quarto, eles a celebraram exatamente como Moisés havia prescrito, com o sacerdócio restaurado e com o templo (8:18; cf. 12:1ss). Nada igual acontecera, desde os dias de Josué.

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