Lista das possíveis dúvidas e contradições no livro de Josué

terça-feira, 29 de julho de 2008

Dúvidas e “contradições” de Josué.

Segue-se abaixo uma lista das possíveis duvidas e supostas contradições ocorrentes no livro de Josué. A lista esta organizada em ordem de versículos.

Josué 2:4-5 – Como Deus pôde abençoar Raabe, tendo ela mentido?

Alguns argumentam que não está claro que Deus tenha abençoado Raabe por ter mentido. Certamente ele a salvou e abençoou por ter protegido os espias e ajudado na derrota de Jericó. Entretanto, em nenhum lugar a Bíblia declara explicitamente que Deus abençoou Raabe por ela ter mentido. Deus pode tê-la abençoado apesar da sua mentira, e não por causa disso. Na verdade o ato de proteger os espias foi a demonstração de sua grande fé no Deus de Israel. Raabe acreditou firmemente que Deus destruiria Jericó, e demonstrou sua fé ficando ao lado de Israel contra o povo de Jericó, quando protegeu os espias de serem descobertos.

Outros insistem em dizer que Raabe enfrentou um real conflito de ordem moral. Era-lhe impossível salvar os espias e ao mesmo tempo dizer a verdade aos soldados do rei. Sendo assim, Deus não lhe imputaria a responsabilidade por esse inevitável conflito moral. Certamente uma pessoa não pode ser tida como responsável por não cumprir uma lei menor de forma a cumprir uma obrigação maior. A Bíblia ordena a obediência ao governo de um país (Rm 13:1; Tt 3:1; 1 Pe 2:13), mas há muitos exemplos de justificada desobediência civil, quando o governo atua no sentido de compelir a prática da injustiça (Êx 5; Dn 3,6; Ap 13). O caso das parteiras hebréias, que mentiram para salvar a vida dos meninos israelitas é talvez o mais claro neste sentido.

Josué 6:1ss – A arqueologia não mostrou que este relato da conquista de Jericó é incorreto?

Por muitos anos a posição prevalecente entre os críticos eruditos foi que não houve uma cidade de Jericó no tempo em que se admite que Josué entrou em Canaã. Embora investigações mais recentes feitas pela notável arqueóloga Kathleen Kenyon tenham confirmado a existência da antiga cidade de Jericó e sua repentina destruição, suas descobertas levaram-na a concluir que a cidade não poderia ter existido posteriormente ao ano 1550 a.C. Tal data é muito anterior ao tempo em que Josué e os filhos de Israel poderiam tomar parte na destruição da cidade.

Entretanto, um recente reexame dessas descobertas e um estudo mais cuidadoso das evidências atuais indicam que não somente houve uma cidade que se enquadra perfeitamente na cronologia bíblica, mas também que suas ruínas coincidem com o relato bíblico da destruição daquela fortaleza murada. Num trabalho publicando na Biblical Archaeology Review [ Revisão Arqueológica Bíblica ], em março/abril de 1990, Bryant G. Wood, professor visitante do Departamento de Estudos do Oriente Próximo da Universidade de Toronto, apresentou provas de que o relato bíblico é correto. Sua investigação detalhada levou às seguintes conclusões:

1. A cidade que existia naquele lugar era muito fortificada, correspondendo ao relato bíblico de Josué 2:5,7,15; 6:5,20.

2. As ruínas dão evidência de que a cidade foi atacada na primavera, depois do tempo da colheita, o que está de acordo com Josué 2:6; 3:15; 5:10.

3. Os habitantes não tiveram a oportunidade de fugir do exército invasor com os gêneros alimentícios que tinham armazenados, como registrados em Josué 6:1.

4. O cerco à cidade teve curta duração, não permitindo que os habitantes consumissem os alimentos que estavam armazenados na cidade, como dá a entender Josué 6:15.

5. Os muros estavam nivelados de maneira a propiciar o acesso à cidade pelos invasores, da forma como descreve Josué 6:20.

6. A cidade não foi saqueada pelos invasores, de acordo com as instruções dadas por Deus a Josué (6:17-19).

7. A cidade foi queimada depois da destruição das muralhas, tal como diz Josué 6:24.

Josué 6:21 – Como pode a total destruição de Jericó ser moralmente justificada?

Primeiro, os cananeus não eram nada “inocentes”. A descrição de seus pecados em Levítico 18 é impressionante: “E a terra se contaminou; e eu visitei nela a sua iniqüidade, e ela vomitou os seus moradores” (v. 25). Eles estavam totalmente perdidos em sua imoralidade, “contaminados” com todo tipo de “abominações”, até mesmo com o sacrifício de crianças (VV. 21, 24, 26).

Segundo, não podemos esquecer que Deus tinha dado ao povo da Palestina mais de 400 anos para que se arrependesse de sua impiedade. Ele teve toda oportunidade de se converter de sua iniqüidade. De acordo com Gênesis 15:16, Deus disse a Abraão que em 400 anos os seus descendentes voltariam para herdar aquela terra, mas que a iniqüidade do povo ainda não se havia completado. Essa afirmação profética indica que Deus não destruiria o povo daquela terra, inclusive os que moravam em Jericó, até que seus pecados os fizessem merecedores de uma completa destruição como juízo de Deus.

Terceiro, quanto à matança de crianças, convém observar o seguinte: (1) Dado o estado canceroso da sociedade em que nasceram, elas não tinham chance alguma de evitar sua fatal contaminação. (2) As crianças que morrerem antes da idade em que já são responsáveis vão para o céu (2 Sm 12:23). Foi um ato de misericórdia de Deus, tomá-las de um ambiente tão pervertido para a sua santa presença. (3) Deus é soberano sobre a vida (Dt 32:39; Jó 1:21) e pode determinar o fim dela de acordo com a sua vontade e tendo em vista o bem final da criatura.

Quarto, Josué e o povo de Israel estavam agindo de acordo com o comando direto de Deus, não sob sua própria iniciativa. A destruição de Jericó foi realizada pelo exército de Israel, que foi usado pelo justo Juiz de toda a terra como instrumento de juízo sobre os pecados daqueles povos. Conseqüentemente, quem quer que questione a justiça desse ato está na verdade questionando a justiça de Deus.

Quinto, era necessário exterminar completamente a cidade e o seu povo, sem deixar nada de fora. Se alguma coisa tivesse permanecido, exceto o que foi levado à casa do tesouro do Senhor, sempre haveria a ameaça de uma influência pagã para fazer o povo desviar-se da adoração pura ao Senhor. Às vezes, uma cirurgia radical é necessária para exterminar completamente um câncer mortal do corpo de uma pessoa.

Josué 7:15, 24 – Deus foi justo ao punir a família de Acã junto com ele?

Há duas respostas para este problema.

Alguns argumentam que os filhos de Acã não sofreram a pena de morte junto com ele, mas simplesmente foram trazidos até o local da punição, para que o evento lhes servisse de advertência. Em favor disso, varias observações são feitas. A primeira é que em parte alguma do texto é dito que alguém mais, além de Acã, tenha também cometido o crime. Deus declara que será tido como culpado “aquele que for achado com a cousa condenada” (v. 15). Também, somente Acã confessou: “Verdadeiramente pequei contra o Senhor” (v. 20) e “cobicei-os” (v. 21).

A segunda é que o texto declara que “Israel o apedrejou” (v. 25). A referência a “queimou-os” (v. 25) refere-se à prata, ao ouro e à capa que ele tinha tomado (veja vv. 21 e 24).

A terceira observação feita é que apedrejar toda a família de Acã por esse crime seria uma clara violação da lei do AT, que diz enfaticamente que “o filho não levará a iniqüidade do pai” (Ez 18:20).

O problema mais sério com esta posição é que o versículo 25 diz “e, depois de apedrejá-los, queimou-os”. Apedrejar objetos sem vida é algo que não faz muito sentido. Pelo contrário, isso parece ser uma referência a Acã e à sua família.

Outra posição reconhece que a família de Acã foi apedrejada com ele, mas argumenta que eles eram cúmplices no crime, e assim foram punidos por seus próprios pecados, não pelo de Acã. Esta posição observa o seguinte:

Primeiro, argumenta-se que seria altamente improvável Acã ter feito o que fez e escondido o material roubado na tenda da família sem que os familiares ficassem sabendo.

Segundo, a culpa da família fica precisamente explícita porque ela toda foi punida. Como era proibido punir alguém pelos pecados de outrem, a família deve ter pecado junto com ele, pois em caso contrário os familiares não teriam sido punidos também.

Terceiro, Deus tem o direito de tomar a vida, já que foi Ele quem a deu (Dt 32:39). Jó corretamente declarou: “o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1:21).

Quarto, não é feita referência alguma a crianças pequenas na família de Acã; porém, mesmo que houvesse, Deus tem a soberania e o direito de tomá-las, e às vezes o faz por meio de enfermidades, sem que haja qualquer implicação de que elas sejam culpadas. Além disso, os pais sendo mortos, as crianças ficariam sem estes para as cuidarem. Seria um ato de maior misericórdia, por parte de Deus, levá-las para junto de si. Isso porque as crianças que morrem antes da idade em que são responsáveis são salvas (2 Samuel 12:23); não há problema quanto ao seu destino eterno.

Josué 10:12-14 – Como poderia o sol ficar parado durante um dia inteiro?

Primeiro, não é necessário concluir que a rotação da terra tenha ficado totalmente parada. O versículo 13 estabelece que o sol “não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro”. Isto pode indicar que a rotação da terra não parou completamente, mas que foi retardada a uma velocidade tal que o sol não se pôs senão depois de quase um dia inteiro. Ou é possível que Deus tenha feito com que a luz do sol se refletisse por meio de algum “espelho” cósmico, de forma que isso resultasse num dia bem mais longo.

Mesmo que a rotação da terra tenha parado totalmente, temos de lembrar que Deus não é capaz apenas de interromper a rotação da terra por um dia todo, como também de anular quaisquer possíveis efeitos catastróficos que eventualmente disso resultassem. Embora não seja necessário nem mesmo que saibamos como que foi que Deus fez acontecer tal evento miraculoso, o fato é que sabemos que Ele fez isso.

Finalmente, a Bíblia emprega uma linguagem comum, referindo-se às coisas como um observador as descreveria. Assim, na realidade não foi o sol que parou; foi isso, porém, o que aparentou a quem tenha observado o evento.

Josué 23:16 – A Promessa da terra feita por Deus a Israel era uma promessa condicional ou incondicional?

Há duas maneiras pelas quais os eruditos procuram responder a esta questão levantada pelos críticos: uma espiritual e outra literal.

Cumprimento Espiritual na Igreja. Alguns declaram que a promessa de Deus não se cumpre literalmente em Israel, mas sim na Israel espiritual, ou seja, na igreja. Apelam aos versículos que chamam os crentes “Israel de Deus” (Gl 6:16) e “descendentes de Abraão” (Gl 3:29). Apontam para Romanos 11, que diz que Israel, como uma oliveira, teve seus ramos “quebrados” por causa da rejeição ao Messias (v. 17). Assim, embora o Israel literal tenha pecado, Deus não obstante manterá sua aliança com Abraão através dos crentes do NT, que incondicionalmente foram eleitos em Cristo (Ef 1:4)

Futuro Cumprimento Literal em Israel. Outros eruditos bíblicos consideram que as promessas feitas aos descendentes de Abraão quanto à possessão eterna daquela terra são de cumprimento literal, apontando para um futuro cumprimento, que se dará quando Cristo retornar à terra para reinar (cf. Mt 19:28; Ap c.19-20). Em apoio a esta posição, observam-se os seguintes pontos:

Primeiro, as promessas de possessão da terra “para sempre” (Gn 13:15) até hoje não se cumpriram.

Segundo, diferentemente da aliança feita com Moisés (Êx 19:1-8), esta foi uma aliança incondicional, baseada no caráter imutável de Deus (cf. Gl 3:18; Hb 6:17-18). Assim, Deus tem de cumpri-la literalmente, com o povo com o qual ela foi estabelecida, ou então Deus estaria quebrando sua promessa incondicional – e neste caso Ele não seria Deus.

Terceiro, não é na igreja do NT que se cumpre a promessa de uma terra permanente feita a Israel (literalmente), nela se cumprem apenas as promessas de receber as bênçãos da salvação por meio da semente de Abraão, que é Jesus (cf. Gl 3:16,29).

Quarto, o NT não poderia ser o cumprimento dessas promessas incondicionais feitas aos descendentes de Abrão, porque ele fala delas como sendo ainda para o futuro. Paulo não falou somente com respeito aos ramos da nação de Israel sendo quebrados, mas falou também de que eles serão “enxertados... de novo” e assim todo o Israel “será salvo” (Rm 11:23, 26). Com efeito, o livro do Apocalipse fala de “cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos... de Israel” (Ap 7:4). Os que advogam esta posição observam também que a palavra “tribo” nunca é empregada com um sentido espiritual nas Escrituras.

Finalmente, as Escrituras fazem uma clara distinção entre as alianças incondicionais (por exemplo, a que foi feita com Abraão), e as que são condicionais (por exemplo, a lei de Moisés). Paulo disse aos gálatas com clareza: “Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão” (Gl 3:18). Em vista dessa interpretação literal, toda palavra de não cumprimento de uma aliança refere-se à aliança condicional feita com Moisés (Êx 19), ou então é uma mera exortação, relacionada com a temporária demora do cumprimento da aliança feita com Abraão (Js 23:16).

Josué 24:26 – O santuário originalmente ficava em Siquém ou em Silo?

O termo “santuário” (miqdash) significa simplesmente “lugar santo”. Não é uma referência ao “tabernáculo” (mishkan), onde a arca da aliança permanecia, mas apenas a um local sagrado, como foram os lugares consagrados por Abraão (cf. Gn 12:6-7) e por Jacó (Gn 33:19-20; 35:2-3). O tabernáculo ficava em Silo, como o próprio Josué confirma anteriormente neste mesmo livro (Js 18:1).

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